Sobre a história da arte

Os seres humanos contam histórias e criam objetos que fascinam os olhos, e por vezes suas histórias dizem respeito a esses objetos. Esse tipo de narrativa, a que se chama história da arte, é habitualmente motivado pelo desejo de uma pessoa de imaginar como seria viver numa outra época e de refletir sobre o que outras mentes pensaram e outras mãos fizeram. Assim, historiadores da arte tentam explicar por que os objetos são feitos de diferentes maneiras, segundo a época e o lugar, e de que forma determinadas atividades passam a fazer parte do universo da arte nos dias de hoje.

Ao longo da história da humanidade, nenhuma sociedade deixou de produzir arte, por mais simples que tenha sido seu nível de existência material. Representações e decorações, assim como a narração de histórias e a música, são tão naturais para o ser humano quanto a construção de ninhos é para os pássaros. Ainda assim, as formas de arte variaram radicalmente em épocas e lugares diversos, sob as influências de diferentes circunstâncias.

Os registros das mudanças artísticas observados na história da arte sempre irão relacionar-se de algum modo com os registros das mudanças sociais, tecnológicas, políticas e religiosas, por mais invertidos ou reconfigurados que sejam os reflexos. Tentando abarcar milênios de produção de objetos pelos seis continentes, na esperança de oferecer uma base a estudantes e pesquisadores, pretende-se que, a partir do conhecimento da história, cada um possa construir suas próprias histórias e imagens. 

Se presume que o propósito da arte em sociedades sem organização política tenha sido mágico. A pintura rupestre realizada por povos pré históricos é um exemplo - imagina-se que ela expressasse crenças comuns e exercesse algum papel em rituais da comunidade. Com o surgimento de nações com uma hierarquia clara, nas civilizações da Mesopotâmia e do Egito, a arte assumiu uma posição a serviço dos ricos e poderosos, decorando palácios e glorificando o prestígio e as conquistas dos governantes. ela também serviu aos propósitos das religiões organizadas, como decoração em templos, retratando deuses e contando mitos religiosos por meio de imagens. A arte esteve ainda, por séculos, a serviço da igreja ou da fé particular, durante a Idade Média. Na Antiguidade Clássica, assim como no período Medieval, a arte não comportava a ideia de estilos individuais, inovação e originalidade presentes no individualismo moderno.

A noção de arte que se tem ainda hoje está fortemente relacionada à proliferação de estilos da Renascença. No Renascimento, além de técnicas representativas inovadoras como a perspectiva linear, surgia também uma espécie de 'teoria da originalidade'. Neste período, reis príncipes e aristocratas ainda pagavam para que suas glórias fossem celebradas e suas riquezas retratadas, mas surgiam também sinais de que os artistas passavam a descobrir um significado mais pessoal na arte que produziam.

Com o passar do tempo, a rapidez das mudanças tecnológicas e sociais influenciou artistas de várias maneiras. Desde a fabricação de tintas em larga escala, até a influência da fotografia, do cinema, da luz elétrica, da aviação e dos avanços científicos no estudo da óptica, por exemplo, a arte ocidental entrou em fase experimental a ponto de romper com as fronteiras da forma artística anteriormente conhecida. E a avalanche de informações visuais na era da comunicação de massa provocou uma mudança no modo como as obras de arte eram vistas, bem como na utilização, percepção e consumo da imagem de forma geral.

Nunca houve antes época como a nossa, em que a imagem fosse tão barata, em qualquer sentido que se tome a palavra. Estamos cercados, investidos, por imagens virtuais, outdoors e anúncios, por histórias em quadrinhos, reproduções de obras de arte e ilustrações. A representação da natureza hoje pode ser vista como coisa banal. Vemos aspectos da realidade representados nas telas de televisão e de cinema, assim como em nossos aparelhos celulares e nas embalagens de produtos diversos anunciados a cada esquina. A pintura é ensinada na escola e praticada em casa como terapia e passatempo, e muitos amadores dominam truques que pareceriam pura mágica a um pintor como Giotto, considerado o introdutor da perspectiva na pintura medieval. Talvez até o colorido berrante das embalagens de biscoitos deixasse boquiabertos os artistas medievais.

Vivemos sob um bombardeio de imagens. Ruas e telas pelo mundo afora exibem uma confusão de fragmentos diversos e dissociados de informação visual. Nossos olhos captam uma miscelânea de citações artísticas como a França do século 14, a Roma quinhentista, o Japão oitocentista e, no mínimo, seria bom conhecermos o vocabulário necessário: de onde veio o quê nas informações visuais do nosso próprio cotidiano. Mais do que isso, seria bom desvendar sua gramática... Como essas imagens se relacionam umas com as outras? Como se enraizam na nossa experiência de vida? Será que temos algo em comum com seus criadores? Quais as referências que se aproximam de nosso trabalho nos campos da comunicação, do design, da publicidade?

Os gregos diziam que se maravilhar é o primeiro passo no caminho da sabedoria e que, quando deixamos de nos maravilhar, estamos em perigo de deixar de saber.

Em nossas aulas, a História da Arte pretende ser uma introdução geral às atividades, objetos e temas da arte através da pesquisa de referências visuais, e não apenas um conjunto de conclusões a seu respeito. Não estamos tão preocupados em definir ou redefinir o que se pode chamar de arte, mas em observar a variedade de conteúdos que hoje se admite nela para o reconhecimento de possibilidades de criação e comunicação. O objetivo aqui é mais de alcance do que de profundidade, mais de abertura de horizontes do que de rigor da história. A abordagem histórica nas aulas não pretende mencionar nomes e datas demais, mas ver a história da arte como uma moldura em que a história do mundo, em toda a sua amplitude, se reflete para nós sob a perspectiva da cultura ocidental e de nossa forma contemporânea de percepção visual.


Referências
BELL, Julian. Uma nova história da arte - Martins Fontes
E. H. Gombrich. A História da Arte
E. H. Gombrich. Arte e Ilusão - Martins Fontes
FARTHING, Stephen. Tudo sobre arte - Sextante

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